Por que “un tuffo in Italia”?

Ainda em um dos meus primeiros anos do percurso universitário aqui na Itália, tive uma matéria que se chamava “História da Arte Grega e Romana”. Lembro-me que explicando um dos poucos exemplos, ainda existentes, de pintura grega, a professora nos apresentou a imagem do “tuffatore” ou, traduzindo em português, do “mergulhador”. A pintura, hoje conservada no Museo Nazionale di Paestum, na província de Salerno, fazia parte de uma tumba e representa uma cena, onde um homem acaba de saltar de um pódio e está prestes a mergulhar na água. Segundo a tradição historiográfica, aquele ato significaria um mergulho simbólico que o defunto teria feito no momento em que abandonou o mundo dos vivos para alcançar o mundo dos mortos. Contudo, seguindo sempre com atenção o raciocínio daquela brilhante arqueóloga, entendi que o significado daquela obra não era assim tão simples, como nada na vida, na arte ou na história o è.

Ela prosseguiu nos mostrando que a tal tumba era composta de outras imagens, como por exemplo, aquela que representava um banquete festivo e por isso não estariam necessariamente relacionada à morte. Iniciou-se um debate animado que nos levou à conclusão de que o “tuffo” (mergulho) de Paestum não era um mergulho no mundo dos mortos, mas sim no desconhecido que naquele contexto funerário poderia significar a morte, mas que de maneira geral era ligado a abertura mental e espiritual em relação ao novo.

Esta foi uma das lições mais bonitas da minha graduação e me fez refletir sobre a necessidade de mergulharmos verdadeiramente em uma cultura se realmente queremos conhecê-la e fazer parte dela. E foi por isso que escolhi o nome “Un tuffo in Italia” para o meu projeto. Vivendo e estudando aqui, entendi que este país é muito mais lindo e muito mais complexo do que qualquer representação de um filme estrangeiro ou de um dos tantos estereótipos que conhecemos sobre a Italia e sobre os italianos. Aqui descobri que cozinha italiana não é só macarrão e polenta, que bons vinhos não se produzem só na Toscana, que arte não é só renascimento e que Roma (por mais estranho que isso possa parecer) não é só a capital de um país.

Romper com estereótipos, e abrir-se para o novo, não é uma tarefa fácil, mas é este o meu “tuffo in Italia” (mergulho na Itália). O “mergulhador” de Paestum, é a representação simbólica da minha experiência neste país. Um mergulho de cabeça em uma cultura que é muito diferente daquilo que frequentemente nos é apresentado pela tv, cinema, mais recentemente pela internet e, infelizmente, até por alguns profissionais do turismo.

A Itália me presenteou com uma série de lindas oportunidades: ser acolhida por amigos e familiares italianos, aprender uma nova língua e cultura, voltar aos bancos da universidade e poder estudar com profundidade um patrimônio cultural que influenciou e influencia ainda hoje toda a cultura ocidental. Depois de alguns anos vivendo esta experiência, senti que era hora de compartilhar este conhecimento com os brasileiros e com os próprios italianos. 

No caso dos italianos faço um trabalho no âmbito cultural que enche meu coração de alegria. Poder explicar algumas coisas sobre a história e a arte deles, para eles, é uma experiência incrível e no final acabo sempre aprendendo mais e fazendo novos amigos. Já com os brasileiros a diversão é garantida! Nos passeios que conduzo ou nas interações nas redes sociais as experiências são sempre ricas e muito alto astral!

Este site é um convite para que você me acompanhe neste “tuffo in Italia”. Deixe de lado os inúmeros estereótipos com os quais você cresceu e permita-se conhecer a Itália dos italianos! Um país muito complexo, mas assim como o Brasil, um país maravilhoso; um povo caloroso e orgulhoso da própria cultura; um patrimônio arqueológico, histórico, artísticos e paisagístico de valor inestimável; uma meta turística feita para voltar a cada ano, afinal uma vida é pouco para conhecer e aproveitá-la como se deve!

Tomba del tuffatore, Museo archeologico nazionale di Paestum , 480-470 a.C.

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